Walter Poague era um jovem aviador Marine Americano, que veio para Ponta Delgada em 1918 como parte das tropas para estabelecer a base naval dos Estados Unidos, em São Miguel. Durante o tempo que aqui esteve, escreveu um diário, detalhando diariamente a sua vida pessoal e profissional. Onze meses depois da sua chegada e menos de um mês antes do fim da guerra, Poague foi morto num exercício de treino em alto mar.
Ele chegou aqui completamente encantado com o cenário da ilha, com os seus edifícios e com os nativos. Apenas alguns meses depois, estava desiludido com tudo e desapontado com São Miguel e com os nativos. Porque é que a sua opinião mudou tão depressa e drasticamente? As razões concretas são um pouco vagas, sendo provavelmente fruto de frustração, do que propriamente de algo a ver com a nossa ilha. Poague desejou ter dado um real contributo para o esforço da guerra e ao invés disso, ficou longe de qualquer ação militar. Estava entediado, cheio de culpa por não estar a dar um contributo decente. Talvez tenham sido estes sentimentos que levaram à sua mudança de opinião.
Poague era um jovem rico e bem instruído, um banqueiro de Chicago que se tinha alistado na unidade de Aviação por dever patriótico. Em vez de combate, as suas responsabilidades limitaram-se a treino de voo aéreo, a ser “oficial-de-dia” e a sentar-se no Conselho do Tribunal de Guerra. Felizmente, ele também tinha una paixão por teatro. Foi-lhe dada a responsabilidade de fornecer entretenimento para a população local e para as tropas, o que permitiu angariar dinheiro para a Cruz Vermelha Portuguesa.
Numa entrada do seu diário, Poague escreveu livremente sobre o seu descontentamento: “Eu quero apaixonadamente participar na luta em França antes que tudo acabe. Eu sei que não sou amarelo. Eu sei que posso ser bem-sucedido e tenho confiança na minha estrela da sorte. Enquanto outros Marines estão a fazer grandes feitos, eu estou preso aqui neste “buraco aborrecido” sem fazer nada e correndo diversos riscos a toda a hora.”
Na verdade, é injusto dizer que Poague nada fez. Através do seu diário em tempo de guerra, foi-nos dada uma visão da vida na nossa ilha há um século atrás, quando o mundo estava ansioso, impaciente e esperançoso pela chegada de dias melhores.