A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) associou-se aos eventos que assinalaram o centenário da guerra de 1914-1918, trazendo à reflexão uma perspetiva cultural e social do impacto que este conflito teve para o país.
A participação de Portugal na Grande Guerra não foi apenas um ato político e militar. O país sofreu efeitos económicos, sociais e culturais que se refletiram na vida dos portugueses e na sua relação com o exterior. Foram esses efeitos, que se pretendeu mostrar e debater, no colóquio “Ninguém sabe que coisa quer”: a Grande Guerra e a Crise dos Cânones Culturais Portugueses”.
A Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial e o Comissariado do Colóquio, representado pelo António José Telo, foram parceiros da FCG, neste debate pioneiro, que refletiu sobre uma problemática essencial para a compreensão do século XX português.
 Crédito: FCG/Márcia Lessa |
|
 Crédito: MDN/António Lopes |
Ao longo dos três dias (28 a 30 de junho), o auditório 2 da FCG, foi presenteado por vários oradores distribuídos por sete blocos temáticos: a Sessão I intitulada por “Quotidianos e Sociedade”, analisou alguns aspetos das condições materiais da vida quotidiana da população portuguesa durante a Grande Guerra e nos anos a seguir; a “Guerra Civil” em Portugal e “Fátima: a Procura do Milagre da Paz e o Choque de Culturas” por Bruno Cardoso Reis, foi também, um tema debatido.
“A Grande Guerra na Pintura e Caricatura”, que marcou a Sessão II, traçou-se um panorama da situação artística nacional com enfoque nas práticas modernistas emergentes e refletiu-se ainda, através do orador Osvaldo Macedo de Sousa, que a caricatura – desenho humorístico – sofreu dos mesmos vícios e virtudes do resto da máquina da comunicação social.
Por sua vez, a Sessão III, “A Grande Guerra e as Novas Correntes Estéticas” que também fez parte do primeiro dia, analisou os encontros, diálogos e as transferências artísticas surgidos no nosso país nos anos da Guerra; “Sousa Lopes ou a Propaganda como experiência íntima do combate”, uma história de um artista oficial que teve de reinventar a sua missão na frente de guerra e a temática sobre os “Monumentos e Memórias da Grande Guerra” pelo orador Eduardo Duarte teve como reflexão a história da escultura em Portugal durante o século XX.
 Crédito: MDN/António |
|
 Crédito: MDN/António |
No dia 29 de junho, teve lugar a Sessão IV com o tema “A Grande Guerra e a Música”. Os dois oradores convidados – Rui Vieira Nery e Pedro Marquês de Sousa – revelaram que o envio do Corpo Expedicionário Português para França fez com que, se encontrasse registos de fados e canções cantados na frente da batalha pelos soldados e portugueses e que as bandas do Exército Português que estiveram em França durante a guerra apresentavam um gosto pelas “rapsódias” e fantasias de inspiração folclórica, incorporando elementos da música popular.
“A Grande Guerra no Cinema, Teatro e Fotografia” foi o tema escolhido para a Sessão V, onde os vários oradores partilharam desde a produção e a receção em Portugal de filmes portugueses e estrangeiros sobre a Grande Guerra, com enfoque às obras de não-ficção e dos serviços cinematográficos do Exército Português; a vida teatral neste período foi marcada por uma atividade intensa, com a abertura de novos espaços em Lisboa; o impacto que esta guerra teve nas artes e dos espetáculos foi dado destaque; e por fim, o testemunho fotográfico com as melhores fotografias tiradas da época foi partilhada pelas oradoras Maria do Carmo Serén e Teresa Siza.
 Créditos: MDN/António Lopes |
|
 Créditos: MDN/António Lopes |
A penúltima Sessão “A Grande Guerra na Literatura, Desenho, Ilustração e Postal” destacou que a guerra esteve presente na imprensa, através das noticias e de artigos de opinião, mas também, um número crescente de imagens – ilustrações – dando relevância aos ilustradores portugueses e, a formação de um “movimento intelectual” de apoio à intervenção portuguesa nesta guerra terá sido um sucesso ou insucesso?
“A Grande Guerra, a Política e o Estado”, que fez parte da Sessão VII, terminou fazendo alusão ao caso do Arquipélago da Madeira, que teve consequências imediatas na vida e no imaginário insulares, tendo sido bombardeada duas vezes, em 1916 e 1917. O silêncio público sobre a conhecida “pneumónica” – acontecimento mais mortífero que atingiu a sociedade portuguesa - foi também analisada nesta sessão.
O encerramento do Colóquio Internacional, ficou marcado pela reflexão do Cardeal Patriarca, com o tema “A Grande Guerra e a Igreja” e, pela singela cerimónia onde, os CTT lembraram a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial com uma emissão filatélica de 3 selos, em homenagem aos três ramos das Forças Armadas, com os temas: a guerra no ar da aviação militar portuguesa, a marinha na Grande Guerra e o exército português na I Guerra Mundial.