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Palestras alusivas à evocação do centenário da I Guerra Mundial - Museu Militar dos Açores 
 
 
Coronel de Artilharia José Manuel Salgado Martins
200 milhas  a  remos,  a  odisseia  dos  sobreviventes  do  NRP Augusto de Castilho
 

A apresentação "200 milhas a Remos, Odisseia dos Sobreviventes do NRP Augusto de Castilho - Uma Tragédia Anunciada", procura recuperar uma publicação de 1920,  "200 milhas a remos", da autoria do 2º tenente Luís José Simões, um dos sobreviventes da guarnição do patrulha oceânico Augusto de Castilho, afundado em 13 de Outubro de 1918, a menos de um mês do fim da Grande Guerra de 1914-1918.,

Esta singela obra assume-se como uma espécie de "diário de bordo" de 12 tripulantes, alguns deles feridos em combate, largados à sua sorte numa minúscula embarcação a remos, arrombada e calafetada com roupa, praticamente sem água e sem comida, e sem qualquer meio de orientação.

O autor descreve, dia a dia, quase hora a hora, com uma linguagem simples, mas sentida, o combate entre o "monstro" de 2500 toneladas (o U-139) e o pesqueiro armado de 300 toneladas ( o Augusto de Castilho) e o sofrimento físico e moral, suportado durante cinco dias e cinco noites por estes sobreviventes, até atingirem a Ponta do Arnel, na ilha de S. Miguel.

A sua narrativa facilmente nos transporta para essa frágil embarcação perdida na imensidão do oceano, quase às cegas, empurrada por um serviço continuo de remos de vinte e quatro horas e mantida a flutuar por outra escala, permanente, de esgotamento da água que se infiltrava, com o recurso a uma pequena escudela e guiados pelo instinto de orientação de um jovem guarda marinha, que utilizava  todos os recursos naturais  ao seu alcance (sol, lua, estrelas, ondas, etc.) para os levar a bom porto.

Carvalho Araújo e os seus oficiais teriam com certeza a consciência de que, caso a sorte da guerra  colocasse no seu caminho e do navio que protegiam um submarino inimigo, mesmo que não fosse um cruzador-submarino, a única hipótese que tinham de cumprir a sua missão, face aos meios de combate de que dispunham, era sacrificar o seu navio e quiçá, as suas vidas. De facto, assim aconteceu.

 Aliás, mais tarde, em 1920, o ministro Pereira da Silva criticou esta modalidade de proteção à marinha mercante, uma vez que, ao obrigar os paquetes a reduzir a sua velocidade para a da sua escolta, retiravam-lhe a sua melhor arma de defesa que era a sua maior velocidade.

Esta constatação leva a que nos interroguemos se Portugal tinha uma necessidade absoluta de participar num conflito onde se defrontavam cerca de quatro milhões de combatentes, e mais importante ainda, se tinha condições políticas, sociais, económicas e militares para o fazer.

Estudos históricos mais recentes vêm demonstrar que nem interna, nem externamente, se desejava a intervenção de Portugal na guerra, à exceção das medidas necessárias para a defesa do território nacional, territórios ultramarinos incluídos.

O imenso desastre militar que se verificou em todas as frentes (Europa e África), comprovaram que o país não possuía os meios necessários nem o apoio da maioria da sua população, para projetar e manter forças na ordem dos 100.000 efetivos em teatros tão exigentes como o europeu e inóspitos  como os africanos.

Interesses partidários e político-ideológicos, associados a fantasiosos interesses nacionais, agravados por uma notória falta de visão estratégica da classe política que governava Portugal  nessa época, podem justificar esta infeliz aventura.

Aliás, a jovem I República Portuguesa começa a morrer com a guerra e acaba alguns anos depois às mãos dos seus principais intervenientes, como por exemplo, Gomes da Costa, Sinel de Cordes, Alves Roçadas, etc.

Estes factos em nada deslustram os comportamentos heroicos, cometidos individualmente em todos os teatros de operações, que a república não se esqueceu de largamente usar, acompanhado de uma sistemática campanha cultural, materializada através da construção de numerosos monumentos glorificadores desses atos.

A irresponsabilidade de uns e o sacrifício de outros devem servir de exemplo para comportamentos futuros.

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